“The Friend”, de Sigrid Nunez

Podemos parar um momento e simplesmente celebrar a beleza dessa capa? Tanto a Jacket (à esquerda) quanto à capa (à direita) me conquistaram de cara, mas não foi exatamente uma daquelas compras impulsivas pela capa que me levou a esta leitura.

Isto porque eu a recebi em uma caixa por assinatura gringa que tinha uma premissa genial: a de enviar lançamentos de literatura contemporânea recheados de post-its com notas do próprio autor, além de complementar o kit com objetos pertinentes à história e duas outras sugestões de leitura que se relacionam ou com o livro principal, ou com as histórias que movem aquele autor em particular.

Depois de perder o melhor amigo, também escritor, nossa protagonista se vê diante de uma herança um tanto quanto inesperada: acaba “herdando” o seu cachorro, um singelo Dogue Alemão. Gigantesco, mas nem um pouco ciente do seu tamanho absurdo perante sua nova dona, Apollo vai se acomodando à sua vida e os dois, claro, tornam-se inseparáveis.

Misturando essa nova realidade, com muitas reflexões sobre escrita criativa e tentativas turvas de lidar com a morte do seu amigo, temos em nossas mãos uma história intensa, que trabalha no limiar entre o realismo e o absurdo. Muito coerente, portanto, com como a vida realmente é.

Talvez as digressões que a autora faz, ao comentar livros específicos e teses acerca da arte da escrita passem um pouco do ponto; mas são tão interessantes para quem gosta do assunto que não chega a ser um grave problema.

O livro guarda uma surpresa, que não irei revelar de forma alguma, mas que, para mim, enriqueceu ainda mais a experiência de leitura. É algo que, mesmo que em algum momento tenha passado pela cabeça do leitor, certamente ficou esquecido pelo caminho, de tão envolvido que estamos na história. Então acredite em mim: você não quer perder essa história por nada.

“The friend” já saiu no Brasil, sob o título “O amigo“, publicado pela Editora Instante!

[RESENHA] Are you my mother? – Alison Bechdel

Sabe aquele quadrinho leve, despretensioso e super rápido de ler? Bem, sinto muito decepcionar, mas não é isso que você vai encontrar em “Are you my mother?”, da Alison Bechdel.

Mais conhecida aqui no Brasil por seu outro quadrinho autobiográfico, “Fun Home”, publicado pela editora Todavia , Bechdel é uma especialista em criar obras fortes e intensas. Aqui, mais do que observarmos apenas um retrato da sua complexa relação com sua mãe, que tem muitos altos e baixos, mergulhamos a fundo nas suas lembranças.

Somos, dessa forma, convidados a refletir, entre uma sessão de terapia e outra, sobre o reflexo dessa infância e o distanciamento que sempre sentiu de sua mãe nos seus relacionamentos, carreira e, enfim, na sua capacidade de ser feliz.

Os traços são muito fortes e a paleta de cores, que desvia dos tons acizentados apenas para pontuar tons avermelhados e rosados, produz uma carga simbólica muito forte em cada quadro.

É uma leitura impactante, bonita e profunda, com forte carga dramática e capaz de transformar a perspectiva do leitor.

[RESENHA] Prólogo, ato, epílogo – Fernanda Montenegro

Fernanda Montenegro é praticamente uma instituição. Não só é uma respeitada atriz, referência para gerações e gerações, mas sua história é inseparável da história do cinema, teatro e televisão no nosso país e da própria História do Brasil como um todo.

E é exatamente isto que seu livro de memórias, escrito com a colaboração da jornalista Marta Goés, nos mostra: o quanto sua vida, mesmo os aspectos mais pessoais dela, são indissociáveis da formação da nossa cultura, da nossa história política e do modo como cinema, teatro e televisão se desenvolveram ao longo das últimas décadas.

O estilo de narrativa encontrado por essa obra, ainda mais que seu excelente conteúdo, é o que conquista de fato o leitor. Mesmo lendo o livro físico, se fecharmos os olhos, conseguimos ouvir Fernanda Montenegro contando sua história no nosso ouvido. Ela nos toma de uma forma que nos parece que ela está bem ali, ao nosso lado, contando episódios de sua vida do mesmo jeito casual e importante com o qual nossa avó contava histórias de nossos antepassados depois do almoço de domingo.

Sua narrativa é irresistível, tornando-se um daqueles livros que agradam todo tipo de público. Só não vão agradar, talvez, aqueles que proclamam por aí não precisarem de artistas. Mas assistir as diversas lives que estão rolando durante tempos de isolamento social todo mundo quer, né?

É, talvez fossem esses justamente os que mais tem a aprender com esse livro.

[RESENHA] Não, nada – Laura Tardin

Um protagonista com um toque de misantropo, que se sente melhor do que todos a sua volta e vai desafiar o leitor a acompanhá-lo em sua jornada.

Escrito em primeira pessoa e fazendo uso de um poderoso fluxo de consciência, a narrativa busca fazer com que sintamos empatia pelo protagonista masculino, que nunca chega a ganhar nome, mas ganha força nas formas com que suas ações e pensamentos questionáveis encontram eco naquilo que não admitimos, mas pensamos diariamente.

Continuar lendo [RESENHA] Não, nada – Laura Tardin

[RESENHA] The Testaments – Margaret Atwood

Publicado 34 anos depois, é através dele que Atwood nos conduz de volta a Gilead, 15 anos depois dos eventos do Conto da Aia.

Dessa vez a narrativa tem três vozes simultâneas, em vez de apenas uma, o que enriquece bastante a experiência do leitor, que consegue ver os eventos se desdobrando por seis mãos. Essa escolha faz com que o nosso envolvimento na história, principalmente na segunda metade do livro, seja ainda maior do que quando temos acesso a apenas um personagem.

Além disso, uma dessas vozes é de uma personagem que conhecemos bem do livro anterior mas que aqui tem uma segunda chance de nos mostrar um novo lado seu. Essa personagem ganha, assim, camadas inesperadas e se torna parte essencial da revolução contra o governo machista e autoritário que comanda Gilead.

Atwood constrói um romance tão poderoso quanto o primeiro, onde a ação ganha mais destaque, mas a forte carga reflexiva e crítica do primeiro permanece.

É uma leitura forte, mas que não vai, de forma alguma, decepcionar os fãs receosos do primeiro livro.

[RESENHA] Copacabana Dreams – Natércia Pontes

Sabe aquele livro comprado por impulso que você nem lembrava mais que tinha?

Esse é Copacabana Dreams, um livro que comprei mais pela capa e por ser da CosacNaify do que qualquer coisa, afinal nunca tinha ouvido ninguém falando sobre ele e desconhecia a autora.

Acabou sendo, entretanto, um passeio delicioso pelo lado que sempre foi o meu favorito de Copacabana: a loucura.

Nos colocando no papel de observadores, Natércia Pontes nos conduz por uma vivência do bairro carioca que beira o realismo fantástico, mexendo com nosso percepção e nosso conceito de normalidade.

“As pessoas não se assustam. Continuam impassíveis pelas calçadas, atravessando sinais, andando de um lado para o outro, regando as samambaias na janela, existindo”.

Ela captura bem o espírito do bairro carioca, em contos e microcontos de leitura gostosa e divertida.

Não sei se ainda há exemplares disponíveis, mas recomendo demais!

Perfeito para aquele momento em que precisamos de uma leitura mais leve e, por que não, um pouco absurda.

[RESENHA] A Paciente Silenciosa – Alex Michaelides

Um casal de artistas que parece ter o mundo a seus pés. Pelo menos até que Alice, a esposa, atire no marido e não fale uma só palavra desde então.

Muitos anos se passam desde sua condenação e subsequente confinamento a uma clínica psiquiátrica, mas ela ainda se recusa a falar qualquer coisa, seja para se defender ou dar qualquer tipo de explicação.

Theo, um jovem terapeuta através do qual acompanhamos essa história, parece não aceitar o estado das coisas e está determinado a fazê-la falar.

Continuar lendo [RESENHA] A Paciente Silenciosa – Alex Michaelides

[RESENHA] As coisas que perdemos no fogo – Mariana Enriquez

Primeiro livro da escritora argentina a ser publicado no Brasil, em 2017, As coisas que perdemos no fogo está longe de ter as marcas negativas de uma autora estreante. Isto porque ela não o é. Este, na verdade, já é o seu quinto livro publicado, embora os outros nunca tenham recebido tradução brasileira.

Continuar lendo [RESENHA] As coisas que perdemos no fogo – Mariana Enriquez

[RESENHA 2 em 1] A Guerra que Salvou a Minha Vida + A Guerra que me Ensinou a Viver – Kimberly Brubaker Bradley

Ao longo desta duologia, vamos acompanhar o desenrolar da vida dos jovens Ada e Jamie, que acabam sendo evacuados para o interior da Inglaterra no início da Segunda Guerra Mundial e, lá, acabam sendo postos sob os cuidados de Susan, uma mulher que passa por um momento difícil em sua vida mas acaba mostrando a eles todo uma nova forma de ver e vivenciar o significado da palavra família.

Continuar lendo [RESENHA 2 em 1] A Guerra que Salvou a Minha Vida + A Guerra que me Ensinou a Viver – Kimberly Brubaker Bradley